
O que existe nesse sentido é um estudo feito por Daniel E. Lieberman, da Universidade Harvard, que foi publicado na revista científica Nature. O estudo mostrou que um corredor descalço sofre menos com o impacto do pé no chão por desenvolver um estilo diferente de correr. Ele se baseia em alguns corredores olímpicos da década de 60. O estudo mostrou que corredores descalços tendem a pousar primeiro a parte da frente do pé ao correr, às vezes usando toda a planta. É uma consequência do maior contato com o solo. Enquanto isso, 75% dos corredores que usam tênis aterrizam com o calcanhar, o que é induzido pelo modelo do calçado. Veja que nem todos que utilizam tênis pisam da mesma maneira. E até hoje não existe uma pesquisa comparativa do número de lesões em corredores com e sem tênis. O próprio autor diz "os dados biomecânicos que nós temos sobre corredores descalços ainda são limitados pelo pequeno tamanho das amostras". Atualmente os tênis para corrida são produzidos para reduzir o impacto e distribuí-lo melhor por um determinado tempo.
Baseado nesse estudo, na Inglaterra foi lançado o livro Born to Run (Nascido para correr), de Christopher McDounall, que estudou os índios tarahumara do México, etnia famosa por correr distâncias de mais de cem quilômetros sem calçados. Esse livro sustenta que o corpo é uma máquina incrível, quase perfeita e que o pé é uma estrutura única e a mais indicada para absorver os impactos das corridas.
O que sabemos é que um artigo de revisão de medicina esportiva de 2007 citado no estudo mostrou que até 30% dos corredores sofrem um acidente por ano. Esse número não pode ser exclusivamente debitado na conta dos calçados que usamos hoje. O principais fatores dessas lesões são a falta de uma programação adequada ao corredor, excesso de atividade física ou até mesmo a opção pela corrida quando não indicada. É bom lembrar que nem sempre a corrida é a melhor opção para todas as pessoas, pelo contrário, na maioria das vezes, por conta do excesso de peso ou outros fatores, atividades como a natação, bicicleta e outros exercícios aeróbios são mais indicadas.
Meu conselho para quem quer optar pela corrida é que continue usando um tênis com bom amortecimento, até que seja realmente provado que correr descalço é melhor. Faça uma avaliação médica para saber se está apto a praticar a corrida. Procure um bom professor de educação física para fazer uma programação individualizada, assim você vai evitar lesões e melhorar sua qualidade de vida.
Minhas dicas são:
- Procure alternar dias de corrida na esteira (que tem impacto menos que no asfalto) e na rua;
- Quando correr na rua, procure um piso que absorva mais o impacto, como a grama ou terra batida;
- Use tênis de acordo com sua pisada;
- Não corra mais do que 4 vezes na semana. Pessoas muito treinadas podem até correr 5 vezes na semana, mas existe uma variação nesses treinos. Treinos curtos, intervalados e longos;
- Faça aquecimento e alongue a musculatura;
- Faça fortalecimento dos membros inferiores para que as articulações fiquem mais protegidas do impacto;
- Não opte pela corrida por modismo ou apenas para ser mais bem aceito em algum ambiente. Acredite: a corrida não é a única maneira de emagrecer, nem pode ser considerada a mais eficiente. Caso não goste de correr, existem inúmeras atividades físicas e o ideal é descobrir alguma que te proporcione prazer, assim você consegue incorporar no seu cotidiano;
- Tenha uma programação de atividade física, feita por um profissional da área, afinal o melhor improviso é pior que uma programação mal feita.